sexta-feira, julho 09, 2010

quase nada

maria é personagem.

quatro da manhã.

belos peitos.

já foi.

terça-feira, janeiro 26, 2010

Fotografia

Descoloria e recoloria-se como experiências de laboratório, mas era um clique. Um clique completo, enquadramento completo. Pacote completo.

Eram cores de aquarela, com textura de Klimt e traço de Schielle.

E foi assim que, no papel, saiu o seu sorriso.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Teatro

Concentrada, revirava a cabeça em círculos. Com calma e intensidade. Era aquecimento. Abriu os olhos, grandes como satélites naturais, e começou a sua dança.

Pois é, eles dançam. Movem-se como mercúrio, se escorrem, se debruçam e voltam à posição inicial. Simulações. Sabem o texto de cor, mas o teatro é mudo. Coreografam o impronunciável, de olhos abertos entram em órbita.

Ele já deu um pedaço de seu personagem pra ela.
Ela já deu um pedaço de sua personagem pra ele.

Ele fez uma cena com o pedaço dela.
Ela subestimou o pedaço dele em si.

Pararam antes de começarem a sapatear. Ela odeia musicais.

Para ele não há temporada intensiva de Brecht que o ensine distanciamento. Acho que falta o domínio dos recursos cênicos necessários. Ela, bem, o que podemos falar dela? Não podemos.

sexta-feira, janeiro 22, 2010

Cinema

Saí pra dançar e defumar meus sonhos. Foi quando me contei essa história.

Disse que depois que ele entrou no quarto era cinema. Ela por cima, rebolava com tanto ímpeto que a cama batia na parede, batia no interruptor do abajur. Era o baque e um flash. A cabeça girando em êxtase, os lábios mordidos. Flash. Cabeça pra trás. Olhos revirados. Dedos na boca. Flash. Um sorriso imerso. Não chegava a 5 quadros por segundo. Eram epifanias, manifestações cósmicas do centro do universo. Era sexo. Tinha cheiro, gosto e suor. Tinha gôzo.

Ah, aquele sorriso.

Quando terminei de narrar a cena, trivial, não dei valor ao final. Fixei os olhos no Aterro do Flamengo, a paisagem carioca mais misteriosa. Definitivamente, minha vista preferida. Tanto a ficção quanto o Aterro nunca me dizem o que eles próprios são. Fechei os olhos e acordei nos Arcos. E ali eu já não era o mesmo.

quinta-feira, novembro 26, 2009

inconveniência

somos matéria de nossos sonhos, somos seus criadores, podemos e devemos produzí-los.

eu sonhei por nós dois. acordei quando você fugia dos diálogos com frases desconexas que não faziam parte das minha ideias quiméricas. quando você disse que não queria mais, que preferia fazer um outro feliz, nesse ou noutro tempo. acordei pra cortar e mandar repetir. você errou o texto, meu bem, ainda não era hora de falar isso. você maculou minha fantasia, cagou nas minhas frases feitas. você poluiu as minhas cenas, perturbou a estética maravilhosa que eu tinha produzido. desconfiou do meu roteiro, do meu talento para nos criar felizes, da minha capacidade inventiva. você duvidou de mim. das linhas que eu tracei para nossos próximos dias e meses. dos cenários que eu escolhi, da roupagem que eu dei. que eu lhe dei a você. a mim. você não deu crédito ao meu trabalho e quis impor seu nome nos créditos. quis assinar um sonho que era meu e que você estragou por não sonhar comigo. você é uma estúpida por jogar tudo fora, por improvisar onde não havia improviso. por sentir-se livre onde não havia liberdade. havia um sonho a ser vivido, havia uma vida a ser sonhada. mas você não quis, você não se permitiu viver sonhando, nem me permitiu sonhar com a vida.

você acabou com um romance lindo que eu tinha feito só porque eu tinha te refeito. e saiba: a minha você era bem melhor que a real. eu tinha lhe descrito muito melhor do que é na verdade. você não se deixou ser melhor, não foi capaz de enxergar a beleza que eu te acrescentei.

acabou com o romance porque você tinha sido apenas minha matéria, e isso de ser matéria nunca lhe foi o bastante, prepotente destruidora de fantasias.

sexta-feira, setembro 11, 2009

drunk love

subsolo. ela grita e xinga como se as palavras fossem só dela mesmo depois de saírem de sua boca. luz perfeita na escada, revide. os outros passam, reparam, pedem para que ele volte e continue a sorrir. ele sabe que vai voltar, mas vive a discussão até o último ponto. a noite era linda demais, os corações naquela hora já haviam estourado, e ele sentia que a cada frase estourava um deles.

subiu as escadas com a certeza de que falara tudo que estava engasgado, voltou para viver as músicas e o amor. naquele dia sabia que a festa iria vivê-lo, que ele não tinha nenhuma responsabilidade sobre seus passos e beijos. do lado de fora, a vida desmoronava, e as incertezas quanto ao futuro maximizavam-se. como se quisessem o futuro antes do presente, o dia seguinte doeu e dói até hoje.

naquela escada perfeitamente iluminada, os dois descobriram, de maneiras distintas, que o mundo é pequeno demais quando vive-se pelo depois.


abatimento no andar, no copo e na luz.

segunda-feira, agosto 24, 2009

Devirando-se

- O sentido da vida é afirmar a própria vida!
- O quê?
- Não deveria haver nenhum tipo de suspense sobre isso, não é segredo!
- Do que você tá falando?
- To falando do Nietzsche e dos Stones, do Spinoza e do Otis Redding, do Woody Allen e do John Coltrane. To falando dessa vida, caralho! Do Paul Thomas Anderson e do Gustave Klimt!
- hmmm...
- To falando do cheiro do teu perfume e daquele macarrão com creme de leite, daquela supernova de roupas de cama e do cheiro dos teus pés, do gosto do teu sovaco e da textura do teu queixo... To falando que o sentido da vida é ter sentidos para vivê-la. Inspira e expira. Olha e vê. Lambe e engole, escuta e chora. Fode e goza. Porque sem esperar o mundo abre-se num convite. "Dançar com os pés do acaso", deveriam haver mantras assim.
- Essa é alguma ocasião especial?
- É sim. Essa aqui é a ocasião do agora. Essa aqui é a nossa ficção. Somos tão grandes quanto podemos nos criar. Somos todo invenção, somos um fluxo, um desejo, somos tesão.
- Então somos deuses.
- Somos.
- Quais deles?
- Os que você quiser.
- Então somos todos.
- Sábia escolha.
- Você quer ser o quê?
- O que eu sou agora.
- Quem você é agora?
- Quem ainda não é.
- Tá ficando difícil...
- Tá bem, eu sou aquele que -(!)

A porta bateu, a janela rachou, o vinho se abriu. Derramados pelo o que eram, afundaram-se em si mesmos. Dizem por aí que, por duas semanas, não houve nenhum assunto mais debatido pela vizinhança.

sexta-feira, agosto 21, 2009

plástico

ela sabe me trazer pro mundo. me enfartar e me tornar à vida. ela é especial e quando venta sinto seu cheiro. meu pau endurece ao pensar no que somos capazes de fazer sem o plástico. látex que me permite entrar e sair sem que haja o toque e que nunca bastou pra nós.

somos tato. mucosa na mucosa. é pau dentro e ela nem ousa pedir para que eu tire.

ela é vida. uma parede em branco a qual preciso decorar. meus melhores enfeites, minhas melhores palavras, meu sono mais pesado são para preenchê-la. para devolver as cores e texturas que ela me proporciona. ela é sexo limpo, é amor que rasga sem partir. somos um corpo bruto, indivisível e irretocável.

somos o corte seco. sem enfeites, nem palavras, muito menos látex.

segunda-feira, julho 27, 2009

cigarro

- o amor é como um cigarro.
- não entendi.
- a gente traga, sente-se bem e ele acaba.
- e o filtro?
- a gente joga fora e pisa em cima. depois a gente busca outro no maço.

sexta-feira, julho 24, 2009

à noite

eu já conheço suas curvas. seus beijos e gestos. seus momentos de riso e de choro. conheço você inteira. cada recorte, cada fotografia. seus desejos não me suportam, nossas verdades são embassadas. minhas mãos lembram das suas, do encaixe preciso. suas roupas estão na minha memória. até as que você usou nos dias que não nos vimos.

eu já vivi você toda nos meus sonhos. só neles. não interessa a realidade, o sonho sempre basta.

sexta-feira, julho 17, 2009

haikai

de quatro. esperando com os cotovelos encostados no sofá, a pele amarela coberta daquele vermelho que só o sol carioca consegue imprimir no corpo, ela movimenta os quadris contra o meu pau e a velocidade com que enfio é proporcional a que bunda vem em minha direção. firme. os ruídos são baixos e a voz médio-grave, soluçando meu nome, pedindo pra desacelerar a entrada, sentir cada toque de pele, de vontade reprimida, casamento acabado, esquecido enquanto meu pau a penetra na meia luz do apartamento às 3:30 da madrugada, a vontade de ser fêmea outra vez, sexo molhado, ela fecha os olhos e esquece os problemas, como alguém que nada pra não pensar, batendo os braços repetidamente na água, sente meus dedos forçando com vontade o corpo contra o seu, empurrando todo o tesão que sinto ao ver aquela bunda de tantas masturbações, ali, mexendo, deixando meu pau sair devagar pra voltar ainda mais ereto, seco, vermelho.

ao fundo a música galopa no ruído das horas.

no vazio da sala sem móveis.

quinta-feira, julho 16, 2009

curta metragem

Naquela noite ele não tinha se vestido pra nada que viria a acontecer. As unhas vermelhas perdiam a cor no quarto escuro e ele não podia afastar-se daquela cama. Era tesão no sentir tesão. Era a vontade pela vontade. Esqueceu-se do amor e do depois. Não podia sair dali, aquele era o momento das frases e confidências rasgadas. Não tinha sexo nem beijo, era pura entrega no quarto sem luz. Masturbação dos egos sem orgasmos.

Os orgasmos viriam depois, efêmeros e intensos como qualquer outro gozo.

Mas foi ali, no quarto onde não se via o vermelho, que o filme começou.

sexta-feira, junho 19, 2009

Quase 28

Faltando apenas dois meses. Ainda namoro um sonho verde celeste e a vida começa a mudar. (pra melhor)

sexta-feira, setembro 26, 2008

Metástase


Ela é meu anticâncer. Caminha dentro de mim, dá vida às minhas células. Dança na corrente sangüínea, deixa um rastro luminoso.

Quanto mais ela vive, mais se espalha. Quanto mais eu vivo, mais eu vivo. Living is living.

Já era, é metástase.

I'm way out, she's way in.

domingo, setembro 14, 2008

Dos bordados, firulas e outros adornos

"Pra sempre" é sempre metáfora. A exceção pra justificar minha regra é a morte. De resto, é tudo metáfora. Somos comparações, substituições de mundo, definições adornadas, dispersões caprichadas, não? Porque somos nós e somos todos; somos tanto...

"Pra sempre" não existe. Nunca existiu pra mim. Até agora. Metáfora. Essa coisa que temos costurado, esse entrelaçar tão delicado, tão nosso, essa colcha que nos abraça e nos deixa livres pra estarmos nus. Temos metáforas que nos cobrem. Somos todos.

Acordar derramado de bicos de peito e umbigos gigantes. Aos poucos vamos talhando ranhuras na pele por onde escorrem nossos (tre)jeitos, seus feitos, meus tentos. Somos centros e bordas. Como boas metáforas, bordados. Acordes arborizados, folhas cheias das nossas danças. Quando inteiros, somos ritmo, firula e melodia. Pacote completo. Certos, porque assim dizemos; metáforas porque assim sabemos. Somos como queremos, pertos.

domingo, setembro 07, 2008

Ela existe agora ou existirá na próxima Primavera

(Texto de Fevereiro de 2007)

Vou falar de alguém que não conheço. Ela tem olhos de paixão, tem a cor da paixão nos olhos sendo mais específico. Poderia se chamar Luiza se quisesse. Ou ter qualquer outro nome que me viesse à cabeça. Mora em um lugar que não conheço, tem os amigos que imagino, freqüenta lugares que só sei o nome. Mas ela existe aqui bem perto de mim. Eu acredito.

Seria a minha companheira para a vida? A mulher com a qual eu brigaria não por outros amores, mas por um café da manhã quente? A mãe de meus filhos? A mulher que contaria o dinheiro comigo? Ou riria também pela total falta dele? Seria ela vestindo aquela blusa amarela linda na fotografia? Ou seria no sonho?

Ela existe com olhares do tamanho dos árabes. Ela existe e é judia. Bailarina, Professora. Dividimos o pão agora ou talvez no futuro. Ela entende e tem ódio. Ela me ama e grita de raiva como alguém no corredor da morte. Pinta as unhas de um vermelho de fúria como Claudia me mostrou certo dia. Claudia talvez tenha sido a luz do que será essa mulher. Ou talvez essa mulher venha para mostrar que Claudia não passava de unhas coloridas.

Com ela tenho paciência. Compro frutas e livros. Cartazes soviéticos para enfeitar a casa nova. Atendo a todos os desejos da gravidez. Atravesso a cidade para ganhar um sorriso de quem ama com o coração. Converso e calo conforme a música toca no andamento dela. Será sempre quem me faz forte, homem, pai, amigo, irmão, amante. Enquanto faço com um sorriso a mulher, mãe, irmã e amiga também.

Acho que consigo entender isso tudo perfeitamente hoje. Ela também entende. Talvez leia isso e me ligue. Ou encontre comigo no meio da madrugada cantando uma canção escrita por mim ou por outro cara qualquer. Ou me escreva um texto lindo como a minha ex-mulher um dia escreveu. Ela existe e já chegou aos meus sonhos, agora para entrar na vida é só um pulo. De dimensão ou de estação.

Ela decide.

sábado, setembro 06, 2008

27

Hoje namoro um sonho verde celeste e a vida não precisa mudar.

terça-feira, maio 20, 2008

Auto-imunidade

Acho que você vai acabar nunca sabendo do que você faz aqui dentro, da minha substância inteira que se espreme e jorra no peito quando eu leio o teu nome. Você, autora das minhas crônicas diárias, que pinta e escreve, que beija e que suja os meus lençóis.

Tenho que parar de ler você nas fotografias que eu não tirei, nos poemas que eu nem sei escrever, no que eu nunca vou dizer. Eu tenho que parar. Me concentrar na minha respiração; inspirar, expirar e expurgar.

Quando você vai deixar de me inspirar?

Vou tentar me desintoxicar da tinta que você injetou debaixo da minha pele, vou deixar de escorrer você. Vou acender fogueiras, vou beber mais do teu líquido (ah se vou), serei humano, tocha. Em chamas eu vou acenar pra você fingido que é pro mundo inteiro.

E aí, quando só sobrar o essencial, o mínimo pra me deixar em pé, eu vou parar, porque as cinzas meus joelhos não beijam mais.

E o meu novo 'inteiro' será o 'intacto'. Serei pequeno, mas coeso. Morno, mas calmo. Serei em vão, mas são.

Queria acreditar que vou ser salvo da minha autopreservação.

sexta-feira, maio 09, 2008

"O tempo parou feito fotografia
amarelou tudo que não se movia."

quarta-feira, abril 23, 2008

A força de um inferno (2)

"É lenha, é fogo, é foda" - Chico Buarque

Eu sonhei muito essa manhã. Acho que os ultimos dias desaguaram em mim e eu me escorri. Nessa fase R.E.M. a sociedade Todo Poderoso-Capeta é forte. Uma dança de belzebus e potestades se arremessando na minha doce e confusa noção de vida, cuspindo suas crias oníricas na minha psiqué.

Havia brados, vontades de revolução, havia caminhos e havia você.

A primeira definição para 'demônio' do dicionário é de uma entidade da mitologia grega, uma espécie intermediária entre o natural e o divino. Eis você, a dona do silêncio cruel, das reações demoníacas (escolha um sentido). Escolha. É tudo o que a gente tem, não? É o nosso tormento, ou o meu.

Eu não sei. O cliché deve ser verdadeiro. Dizem que a grande artimanha do tinhoso foi convencer a humanidade de que ele não existia. Te reconheço pelo cheiro, pelo sabor - "so bitter and so sweet" - e pelo entrelaçar de pernas.

Mas você existe?
Não faço idéia, o inferno é uma caminhada sem referenciais.