"Porque um mundo todo vivo tem a força de um Inferno."
Clarice Lispector
Fui criado direitinho, sempre fui à igreja. Desde que me lembro, estava eu toda semana na escola dominical da Igreja Metodista. Sempre fui relativamente íntimo do pentecostalismo: as 'línguas estranhas', a expulsão de 'espíritos malignos', as obras do Espírito Santo, vi tudo de perto. Não contem pra minha mãe, mas todos aqueles anos de culto não me ajudaram muito.
Mês passado eu me apaixonei por um demônio.
Ela é sim uma divindade decaída, uma outcast do paraíso, muito bem educada pelo capeta a falir almas, esgotar espíritos. A começar porque você tem escolha. A opção é sua a sucumbir àquela bomba de estímulos, àqueles (grandes) lábios incandescentes.
Minha morte não se dá por colisões de trens, não é a explosão de um cargueiro. É lenta, muito mais lenta. É a longo prazo, é Parkinson, é o vazamento de uma usina nuclear, gerando essas minhas vidas deformadas, filhas dessa chernobyl particular.
Amá-la é de um envenamento contínuo.
[continua(?)]