Fiz bem-me-quer-mal-me-quer na folha de caderno que tinha um poema com o teu nome. Foi logo antes de acontecer. Quando vi, teus olhos já estavam ali aquecendo meu peito e falando de ti. Quase deixei seu rosto escurecer demais. “O retrato mais bonito que eu fiz”.
Esse tipo de revelação tem um quê de mística, é ritualística. Luz vermelha, banhos em substâncias especiais e uma imagem que surge não sei de onde. Ela baixa ali. Pra mim, ela ascende.
Eu tinha essa idéia da minha fotografia perfeita; você subverteu tudo. Posou errado, se sacudiu e disse que era melhor assim. Raridade: eu estava sem palavras. Quando vejo agora percebo a infinidade de cenários e enquadramentos que você me deu.
Um coro me trouxe de volta para este tempo de hoje, todos os teus retratos cantando como se fossem backing vocals gospel. I don’t understand about complementary colors. What they say: side by side they both get bright, together they both get grey.
Depois disso, peguei o filme e decidi ampliar tudo de novo. Vou fazer diferente. Vamos ser? Vamos. Está na hora dos nossos milagres. É agora que te possuo. E sem metáforas; é você pra mim! Deixei a luz entrar pela película. Fotograma por fotograma, o processo foi cuspindo o invisível no papel. A revelação está em mim.
Fiz isso com todas as Ísis que eu vi e comecei a engolir as 10x15, que desciam sem eu mastigar. Vamos lá, se mostre pra mim! Peguei o coquetel mágico e entornei: primeiro o revelador, depois água, depois o fixador. Shots fotográficos. Me faltou limão.
Depois da 22ª, caí no chão de dor, vomitei tudo, emoldurei e pendurei na parede. Estão lá até hoje, os retratos mais bonitos que eu fiz.