segunda-feira, agosto 24, 2009

Devirando-se

- O sentido da vida é afirmar a própria vida!
- O quê?
- Não deveria haver nenhum tipo de suspense sobre isso, não é segredo!
- Do que você tá falando?
- To falando do Nietzsche e dos Stones, do Spinoza e do Otis Redding, do Woody Allen e do John Coltrane. To falando dessa vida, caralho! Do Paul Thomas Anderson e do Gustave Klimt!
- hmmm...
- To falando do cheiro do teu perfume e daquele macarrão com creme de leite, daquela supernova de roupas de cama e do cheiro dos teus pés, do gosto do teu sovaco e da textura do teu queixo... To falando que o sentido da vida é ter sentidos para vivê-la. Inspira e expira. Olha e vê. Lambe e engole, escuta e chora. Fode e goza. Porque sem esperar o mundo abre-se num convite. "Dançar com os pés do acaso", deveriam haver mantras assim.
- Essa é alguma ocasião especial?
- É sim. Essa aqui é a ocasião do agora. Essa aqui é a nossa ficção. Somos tão grandes quanto podemos nos criar. Somos todo invenção, somos um fluxo, um desejo, somos tesão.
- Então somos deuses.
- Somos.
- Quais deles?
- Os que você quiser.
- Então somos todos.
- Sábia escolha.
- Você quer ser o quê?
- O que eu sou agora.
- Quem você é agora?
- Quem ainda não é.
- Tá ficando difícil...
- Tá bem, eu sou aquele que -(!)

A porta bateu, a janela rachou, o vinho se abriu. Derramados pelo o que eram, afundaram-se em si mesmos. Dizem por aí que, por duas semanas, não houve nenhum assunto mais debatido pela vizinhança.