terça-feira, janeiro 26, 2010

Fotografia

Descoloria e recoloria-se como experiências de laboratório, mas era um clique. Um clique completo, enquadramento completo. Pacote completo.

Eram cores de aquarela, com textura de Klimt e traço de Schielle.

E foi assim que, no papel, saiu o seu sorriso.

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Teatro

Concentrada, revirava a cabeça em círculos. Com calma e intensidade. Era aquecimento. Abriu os olhos, grandes como satélites naturais, e começou a sua dança.

Pois é, eles dançam. Movem-se como mercúrio, se escorrem, se debruçam e voltam à posição inicial. Simulações. Sabem o texto de cor, mas o teatro é mudo. Coreografam o impronunciável, de olhos abertos entram em órbita.

Ele já deu um pedaço de seu personagem pra ela.
Ela já deu um pedaço de sua personagem pra ele.

Ele fez uma cena com o pedaço dela.
Ela subestimou o pedaço dele em si.

Pararam antes de começarem a sapatear. Ela odeia musicais.

Para ele não há temporada intensiva de Brecht que o ensine distanciamento. Acho que falta o domínio dos recursos cênicos necessários. Ela, bem, o que podemos falar dela? Não podemos.

sexta-feira, janeiro 22, 2010

Cinema

Saí pra dançar e defumar meus sonhos. Foi quando me contei essa história.

Disse que depois que ele entrou no quarto era cinema. Ela por cima, rebolava com tanto ímpeto que a cama batia na parede, batia no interruptor do abajur. Era o baque e um flash. A cabeça girando em êxtase, os lábios mordidos. Flash. Cabeça pra trás. Olhos revirados. Dedos na boca. Flash. Um sorriso imerso. Não chegava a 5 quadros por segundo. Eram epifanias, manifestações cósmicas do centro do universo. Era sexo. Tinha cheiro, gosto e suor. Tinha gôzo.

Ah, aquele sorriso.

Quando terminei de narrar a cena, trivial, não dei valor ao final. Fixei os olhos no Aterro do Flamengo, a paisagem carioca mais misteriosa. Definitivamente, minha vista preferida. Tanto a ficção quanto o Aterro nunca me dizem o que eles próprios são. Fechei os olhos e acordei nos Arcos. E ali eu já não era o mesmo.